VULCANO: a fúria não pára!


Por Écio Souza Diniz 
O VULCANO surgiu no litoral paulista, em Santos no início dos anos 80 e não só foi a banda pioneira do Metal Extremo na América Latina que despontou no cenário underground, como também se mantém ativa até hoje devido a fidelidade a sua própria música. Hoje, são mundialmente conhecidos, especialmente na Europa como uma das bandas de Death/Black metal mais influentes da história e esse reconhecimento veio com muito suor e persistência. Durante os anos 2000, a banda está altamente produtiva, numa sucessão incrível de excelentes lançamentos e é para falar de tudo isso que o líder e guitarrista Zhema Rodero concedeu essa interessante entrevista ao PÓLVORA ZINE. 
Pólvora Zine: O VULCANO começou sua carreira há quase 35 anos atrás e é considerada a primeira banda de Metal extremo da América Latina. O que de forma prática isto representa para você e para a banda? 
Zhema Rodero: Sim, começamos bem lá no comecinho dos anos 80. Porém nada nesse universo acontece isoladamente e então provávelmente haviam outras bandas também. O que ocorre é que o VULCANO permaneceu na estrada e foi moldando seu estilo para o lado mais extremo do Heavy Metal e tivemos a atitude de permanecer assim durante todos os anos que se sucederam, de uma forma batalhadora e honesta. Assim, recebemos esse título de pioneiros, não por uma pesquisa, ou por uma eleição e tampouco pedimos que nos desse, e sim por um reconhecimento legítimo da nação “headbanger”. Então eu como criador do VULCANO tenho um sentimento de orgulho dessa conquista.    


P.Z: No começo da banda um de suas maiores dificuldades foi conseguir se inserir no fechado cenário paulistano do Metal. Por que esta cena era tão seletiva? 
Zhema: Não creio que a cena de Metal Paulistana no inicio dos anos 70 era assim tão seletiva. Na verdade o VULCANO era diferente para a cena. Tinhamos um visual carregado de corrente, ossos, taxas e trazíamos nas letras de nossas músicas mensagens profanas, satânicas e obscuras e acima de tudo fazíamos um som extremo com vocal gutural e isso nos deixava marginalizado entre os produtores de shows e eventos daquela época. Não eram as bandas Paulistanas que nos dificultavam fazer shows por lá, eram os produtores que não nos entendiam direito, creio eu.
 P.Z: Uma história no contexto da pergunta anterior é contatada por Carlos Lopes (DORSAL ATLÂNTICA) no livro “Guerrilha: a história da Dorsal Atlântica”, na qual ele fala que quando grupos de pessoas souberam que o VULCANO era próximo dos cariocas da Dorsal, praticava um crossover até então novo, elas começaram a não olhar vocês com bons olhos. O que você pode nos dizer sobre isso? 
Zhema: O Carlos deve estar se referindo a segunda metade da década de 80, quando o radicalismo, em menor força, ainda existia não se pode negar. Eu mesmo tinha uma revolta interna com aquela mistura de valores que em minha concepção não se misturavam. Mas foi uma época, apenas.Eu tinha uma proximidade com o Carlão, trocávamos extensas cartas versando sobre as dificuldades e fatores existenciais da época. Fizemos muitos shows juntos.
P.Z: Nos anos 2000 a banda está bastante produtiva e tem lançando álbuns sonoramente intactos e cheios de fúria.  Ao que principalmente se deve isso em sua opinião? 
Zhema: Creio que ao amadurecimento quem só ocorre com o passar dos tempos. Cheguei no início de 2000 com uma vontade, que se acumulou nos quatorze anos anteriores, de fazer Metal como fazíamos antes e não permanecer copiando nossos ídolos e em determinado momento eu percebi que eu sabia fazer aquilo ainda, e então arregacei as mangas e fui produzir.
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P.Z: Ao falar em produtividade vem à mente a questão: o que principalmente fez a banda ficar em baixa atividade nos anos 90?  
Zhema: Havíamos parado a banda no final de 89 por dois motivos fundamentais, eu não estava gostando de como o Metal estava se tornando “fancy” e tínhamos que cuidar de nossas famílias, faculdade, essas coisas. Continuamos todos permeando a cena, montamos outros projetos participamos de projetos dos amigos, mas sempre ligados ao Rock/Heavy metal.
 P.Z: Eu acredito que o mais recente álbum, Wholly wicked (2014) é o mais brutal, técnico e rápido da banda até então. Você o consideraria o seu melhor trabalho até então?  
Zhema: Eu gosto muito desse álbum, mas eu ainda estou curtindo seu antecessor, The Man, The Key, The BeastWholly Wicked é o sucessor natual do anterior, porque algumas de suas canções já existiam, mas não foram colocadas nele e então para mim ele soa como se fosse um álbum duplo. Gostaria de fazer uma colocação com relação a essencia da pergunta. O melhor trabalho não é representado por um evento ou uma entrega. Em minha opinião existem vários “melhores trabalhos” que aconteceram sob condições diferenciadas, assim Bloody VengeanceTales from the Black BookThe Man, The Key, The Beast não podem ser separados desta visão de melhor trabalho.
 P.Z: Além de Wholly wicked, em 2014 também foi lançado Live II: Stockholm stormed. Visto que o VULCANO é muitíssimo conhecido e respeitado na Europa, especialmente na Escandinávia, você acredita que aquele show foi um ponto alto?  
Zhema: Londres! Londres é sempre o “ponto mais alto” para o VULCANO, todas as vezes que tocamos em Londres é “sold out” e os fãs incendeiam a platéia. A atmosfera torna-se um tornado de energia. A Escandinávia é nosso “segundo lar”. É onde o VULCANO tem o reconhecimento de sua obra e o respeito por seu legado. Pela primeira vez em quatro turnês não passaremos pela Dinamarca, Noruega e Suécia porque iremos para a Peninsula Ibérica, mas tenho recebido muitas lamentações por isso.
P.Z: Dentre as musicas de Wholly wickedMalevolent mind e Thirst for vengeance são boas representantes do que se pode esperar deste disco. Como funcionam elas ao vivo?  
Zhema: Criamos um problema por conta do “set list” dos dois últimos álbuns porque suas músicas estão na afinação barítono e portanto agora tenho que carregar uma segunda guitarra. Sim, uma de sete cordas resolveria, mas não é minha cara. Assim, segregamos as músicas desses álbuns para serem as primeiras do show. Muitos fãs ainda querem ouvir os clássicos e então ficam impacientes, mas mesmo assim nós executamos todas que estão no ‘set list’ para depois entrar nos clássicos!
P.Z: O que levou a saída do vocalista Angel da banda? Foi difícil a aceitação do vocalista Luiz Carlos Louzada (CHEMICAL DISASTER,) pelo público?  
Zhema: O Luiz Carlos já fêz varias participações no VULCANO desde 1996. Sempre que o Angel não podia, era ele quem entrava em cena. O Angel nos dois últimos anos da década de 2000 passava por mudanças de prioridades na vida particular e profissional dele e isso nos deixou por um bom período sem fazer shows nem criar álbuns, até que as vésperas da turnê Européia ele decidiu que não iria e foi quando o Luiz assumiu os vocais. O Luis é um grande “performer” no palco e então para ele e para nós foi facil essa aceitação.
P.Z: Em termos de feeling, agressividade e alcance vocálico, particularmente eu prefiro o trabalho de Luiz Carlos. Como você analise os álbuns da banda com ele e todos os outros com Angel?  
Zhema: Eu gosto dos dois! Cara! É como OZZY e DIO, BON SCOTT e BRIAN, BYRON e BERNIE, BALOFF e ZETRO... não dá para comparar e decidir por um ou pelo outro. Os dois são bons e fazem bem o que se propõem a fazer.
P.Z: O que o levou a criar o próprio selo, Renagados Records, que vem lançado os álbuns da banda desde Tales from the black book (2004). Isso tem sido melhor em quais aspectos para a carreira do VULCANO do que ser uma banda contratada por uma gravadora, como vocês foram pela Cogumelo Records? 
Zhema: Então essa é uma questão que merece esclareciemento. O VULCANO sempre foi independente, não tivemos nenhum contrato com gravadora que não fosse para um álbum apenas, mesmo assim os dois únicos álbuns que o VULCANO não detém os Direitos Fonográficos são o Who are the True e o Five Skulls and one Chalice. Todos os demais foram produções nossas e licenciados para uma garvadora. Com o advento da nova Lei de Direitos Autorais, eu resolvi criar a Renegados Records e atribuir a ela toda a obra do VULCANO que não estão sob Direitos Fonográficos de terceiros. Assim eu posso lançar meus próprios álbuns, deter esses direitos e licenciá-los para quem eu quiser. Para o VULCANO é melhor trabalhar assim. Eu posso fazer quantos álbuns eu quiser, no mesmo ano ou em períodos curtos e se uma gravadora não estiver interessada eu vou para outra. Não preciso estar sob um cronograma de lançamento específico. Bem, tudo tem um lado bom e outro ruim, o ruim é que o VULCANO não tem nenhum apoio promocional, nenhuma ajuda para entrar em grandes festivais, não tem penetração na mídia, não aparece em anuncios de revistas, em jornais, etc. etc.
P.Z: Diversos álbuns da banda tem sido relançados, alguns em formato especial e luxuoso como o Bloody vegeance (1986), que agora vem como CD digipack com DVD do show de lançamento em Belo Horizonte em 1986, além de suas versões chinesa, com duas faixas bônus cantadas por Luiz Carlos e com um ‘patch’ e a versão LP pela parceria da Cogumelo com a norte-americana Greyhaze Records . Contudo, o histórico Live (1985) está há tempos fora de catalogo e o Who are the true? (1988) nunca foi lançado em CD. Há algum problema contratual que impede o relançamento de ambos ou é apenas por que ainda não foi o momento certo?  
Zhema: Nenhum impedimento! Tanto que sua pergunta foi super atual. A Cogumelo estará nos próximos trinta dias relançando um versão de luxo digipak com uma arte grafica bem legal do LIVE! (Nota: a entrevista foi editada em 10 de fevereiro) e já está trabalhando no lançamento pela primeira vez na versão CD do Who are the True.
P.Z; Algo que acho interessante é o fato de vocês terem disponibilizado todos os álbuns para audição no site oficial. Qual foi o motivo que o levou a esta decisão?  
Zhema: Eu tenho comigo que quanto mais pessoas ouvirem sua música, mais chance você tem que elas vão aparecer em seu show. Assim, eu não me importo tanto de as pessoas vão buscar minha música na internet, em sites de “download” ou vão ouvir oa álbuns na ítegra em “streaming”. Eu quero mesmo é que vão nos shows do VULCANO, pois é lá, ao vivo, que terei a chance de mostrar o VULCANO na verdade e sei que é lá, ao vivo, é que terei a verdadeira chance de conquistar um fã.
P.Z: Quais são os planos da banda para 2016?  
Zhema: Bem, tem um EP que já deveria estar nas lojas há mais de ano, mas que por ser um EP e ter apenas vinte minutos, não houve interesse de nenhum selo/gravadora. Estou trabalhando nele, produzindo um curta metragem para expressá-lo melhor e se tudo der certo antes de ir para Europa lançaremos ele pela Renegados Records. Temos também um documentário sendo produzidos pela Just Design juntamente com a Blue Screen of Death Filmes com previsão para esse semestre e a turnê europeia comemorativa dos 30 anos do álbum Bloody Vengeance que acontecerá em Maio próximo, além dos shows que vão surgindo aqui no Brasil. Temos também 25 novas músicas das quais 11 já tem os “takes” de bateria gravados, mas que demos um tempo, pois tem muita coisa para o primeiro trimestre ainda.
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